sábado, 14 de novembro de 2009

Adeus partido




















É com muita tristeza que visitei o terreno que era da minha familia e que perdemos por causa da justiça do trabalho. Vagabundos continuarão reinando enquanto a justiça não honrar seu próprio nome. Uma página virada sem dúvida, mas uma saudade em especial sei que vai além de mim. Vai porque sua sombra acalentava centenas de pessoas todos os anos. Suas frutas eram a alegria de crianças, jovens e idosos que pareciam frutificar junto com o gigante. Falo do cajazeiro que estava no terreno. Conversando com os mais antigos da vizinhança estimei a sua idade em torno dos cem anos. Imagino quantas pessoas, famílias inteiras já se alimentaram do seu suco. Seu filho também caiu. Ele estava ao lado, ninguém o plantou nascera. Também já tinha tamanho e produção. Junto com eles cairam cajueiro, mangueira, abacateiro, goiabeira, mandioca... poxa vida, para que? construir um prédio? Não para escrever com o sangue verde a posse sobre um bem que antes tinha vida e hoje segue árido.

Procuro pelas fotos do antes para quem quiser ter uma ideia de como era gostoso este quintal e quem sabe sorrir comigo imaginando meu filho, hoje com três anos, subindo árvores imaginárias...











Não achei nenhuma aberta só esta sombra no caminhão. Quando achar eu subo para vocês saberem do que eu estou falando acima.

domingo, 25 de outubro de 2009

Lara Matana




Há algum tempo venho acompanhando o trabalho da Lara Matana. Ela tem a seu favor algo que todo o artista almeja: estabilidade financeira. É engraçado, mas já ouvi críticas a ela por isso. Como alguém que não sofre pode ser artista? É engraçado por que ficamos discutindo a produção artística baseado nas condições de vida do artista. Se ele(a) é deslocado(a) da sociedade. Se sofreu abusos, se enfrenta Golias pelos desertos da vida. 



É claro que a arte é uma válvula de escape para situações extremas. Auxilia as pessoas a vencer obstáculos aparentemente intransponíveis, mas não é só isso. A arte também é estética. Falo sem medo de reduzir a arte da Lara à decoração e também sem reduzir o valor da mesma em um ambiente. A arte da Lara carrega consigo uma semente ecológica. Ela trabalha com resíduos de madeira que virariam pó e fumaça. Seu trabalho segundo Aline Figueiredo está muito ligado ao designe, vemos isso também e mais. 





Enxergar, como ela o faz, beleza num toco de árvore arrancado, ou enfeitar esta dureza retorcida com um abraço envolvente de uma cobra composta de pequenos pedaços de madeira entrelaçados vai além da decoração, sem dúvida.

E o que dizer de elementos trabalhados minuciosamente em finas lâminas de madeira dispostas de modo a imprimir a perspectiva infinita de um corredor. E quando ela o faz com cores que dão vida à madeira e apresentam formas e densidades diversas ao mesmo material inanimado nas mãos de meros mortais. Sim por que na sua mão ganham vida e vibram, e puxam o nosso olhar para além conduzindo-nos a uma experiência tridimensional.



Lara (re)cria formas, painéis, esculturas, quadros, faz isso há muitos anos e já conquistou o Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais que recebem e comercializam seus trabalhos. Quando o diretor Fernando Meirelles escolheu uma de suas obras para o seu filme Ensaio sobre a cegueira nós noticiamos aqui no DC Ilustrado com alegria de quem conhece o trabalho de perto. 




Você pode apreciar a exposição até o dia 30 de outubro no museu de arte e cultura popular na UFMT, em horário comercial. Se quiser conhecer mais da artista visite o site: WWW.laramatana.com.

Nas palavras da mestre Aline Figueiredo fica o registro da sua sensibilidade: [Lara] “Olha os troncos por longo tempo, até ganhar-lhes a intimidade expressiva que vai sugerir e induzir o que neles interferir e recriar. Ora conserva os sulcos que considera mais expressivos, abre frestas e lhes introduz pequenos pedaços geométricos de madeira; ora lhes acrescenta grandes pedaços, bem alisados pelos tornos, a dialogar, assim, entre o rústico e a intervenção da máquina.” 



Ordilei, luz e sombra


As fotografias de “Grafias de Luz: fatos gráficos” é o que podemos chamar de uma poesia concreta visual. Um estudo pertinente de luz e sombra

Cláudio de Oliveira
Da Reportagem

O que é a fotografia se não a grafia com a luz. A exposição do fotógrafo Ordilei Caldeira na galeria do SESC Arsenal está chegando ao fim. Em cartaz desde 12 de setembro finda neste domingo. A oportunidade de apreciar a sua arte está espalhada pela internet, mas esta exposição não está reunida em nenhuma das suas páginas que informamos ao fim da matéria.

Ordilei, como já dissemos anteriormente na matéria de lançamento da exposição, é um jovem fotógrafo, não fez trinta anos ainda, mas demonstra maturidade e sensibilidade nos seus registros.

As fotografias expostas em “Grafias de Luz: fatos gráficos” é o que podemos chamar de uma poesia concreta visual. Eu sei, o termo provavelmente não existe, mas você que conhece a poesia concreta e for até a galeria do SESC a de concordar comigo. Econômico na informação, sobrepõe a luz com objetos como se estivesse construindo uma poesia concreta retalhando as palavras em informações visuais. Ele retalha a luz produzindo sensações poéticas, às vezes, abstratas outras vezes mensagens indiretas do objeto.

As fotos parecem feitas em preto e branco em quase sua totalidade, acredito que para explorar ao máximo o contraste proporcionado por este suporte. Mas as experimentações em cor como a da janela, a da parede com sua textura amarelada e espinhosa e a abstrata que nos leva ao que parece uma fresta de luz com detalhe triangular que lembra um seio feminino, também impõem uma harmonia e simetria interessante.

No canto da galeria o visitante pode brincar com as fotos do artista exercitando composições novas unindo as formas “aleatoriamente”. Fios de sombra que se unem a bancos e barras de metal promovendo uma gramática da luz. Elementos a serem postos em ordem ou não, com equilíbrio dinâmico. 




Ordilei não faz apenas fotos artísticas, conceituais ou abstratas. Seu repertório é grande e pode ser apreciado em muitos sites, por exemplo:http://br.olhares.com/galeriasprivadas/browse.php?user_id=1618, tem inúmeras galerias criadas por ele como: natureza, urbe, pessoas, paisagens urbanas, macro e outras. No Flickr que é um dos fotologs mais utilizados do mundo, também guarda algumas (150) das suas obras: http://www.flickr.com/photos/ordicfoton/.

Para quem tiver o interesse em adquiri-las, elas estão a venda em Cuiabá na Fast Frame "Moldura na Hora" R. Estevão de Mendonça (próx. ao Choppão) e na Casa das Molduras, Rua 24 de Outubro. 




sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Compadre de Ogun



 


Argentino de nascimento e brasileiro de adoção se naturalizou em 1957. Hector Júlio Páride Bernabó ou, simplesmente, Carybé (1911-1997). Desenhista, pintor, escultor, apaixonado pela cultura brasileira, em especial, pela afro-brasileira. Carybé foi agraciado com o título Obá de Xangô (um dos pontos mais altos do candomblé) e recebeu entre outros títulos o de Doutor Honoris Causa da UFBA.

Produzia muito, mas expunha pouco. Participou da III Bienal de SP e foi homenageado na VII com uma sala especial. Deixou mais de quatro mil trabalhos entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços. Tem obras expostas nos EUA e na Rússia.

Compadre de Ogun era um capítulo do livro ‘Os Pastores da Noite’(1964) do escritor baiano Jorge Amado. Era... porque virou um livro que o próprio autor editou e também um especial para a TV Globo (1994) adaptado por Geraldo Carneiro. Inclusive é desta adaptação que surgem estas aquarelas singulares que ilustram o cotidiano sincrético da Bahia.

A história é rica antropologicamente falando e cômica. Um estivador, Massú, tem um caso sério com uma dama da noite. Do relacionamento nasce uma criança. A profissional entrega a criança para ele e some. Ele aflito por batizá-la pede auxílio à Mãe de Santo. Muitos são os pretendentes porque Massú era muito querido por todos. Ela oferece um despacho a Ogum e o mesmo diz que ele será o padrinho. O boato se espalha pela cidade e todos querem saber quem é o compadre de Ogum. Depois de descobrirem quem vai carregar Ogum e de saber qual é a igreja, Nossa Senhora dos Pretos, segue o cortejo.

Então a Mãe de Santo recebe ordem de Ogum para despachar para Exu, pois seu irmão pode querer atrapalhar o batizado. Ele pede que sacrifique uma galinha de angola, porém Exu apronta e solta a galinha. Ela então oferece três pombas brancas e Exu parece ter aceitado. Durante o cortejo ela estranha o comportamento de Ogum. O problema só, descoberto mais tarde, é que não era Ogum, mas Exu que tinha chegado antes ao terreiro. Quando desce do carro satírico para encontrar a Mãe com o bebê no colo e o Carybé, na frente da igreja aumenta o receio da Mãe de Santo.

Dentro da igreja Ogum desesperado porque Exu ia batizar a criança, procura alguém para descer. Ele encontra o padre, descendente de escravo, de origem africana, recebe Ogum e dá tapa em Exu, assumindo o seu lugar para batizar a criança.

São 31 aquarelas, de 50x35cm, que usam cores básicas para retratar com beleza o sincretismo religioso brasileiro. Dizem que Carybé sempre desenhava os rituais do candomblé, mas nunca durante os mesmos por respeito. Ele guardava as imagens na memória e as ilustrava depois.

A exposição une a literatura com as artes plásticas, pois os fragmentos do texto de Jorge Amado estão presentes ao lado das obras de Carybé. Isto torna a leitura ainda mais gostosa já que vamos além do texto para as imagens e além delas pela contínua imaginação. Ambientando a exposição ainda temos o prazer de ouvir músicas baianas com a pegada africana. A percussão induz ao transe extático e a alma está pronta para assimilar o ritual mágico.

A pesquisa exposta junto para contextualizar os autores (Carybé e Jorge Amado) foi realizada por Maristela de Fátima Carneiro, Galeart/CAC/DIESCOM – MG. A exposição foi anteriormente exibida através dos Centros de Cultura do Banco do Brasil que doou para o sistema SESC o que permite a atual circulação entre todas as unidades do SESC no Brasil. Observação: O termo Ogum é grafado desta maneira em português, mas Jorge Amado deve ter feito valer a grafia ioruba pois etimologicamente o termo vem da África e se escreve Ogun. 



Se você perdeu a exposição ou a mesma não esteve em sua cidade você pode ver um pouco da obra extraordinária deste argentino/baiano no meu flickr. É uma pena que falta o texto do Jorge Amado que dá o molho que une as imagens com comicidade.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Jericoacoara e a gastronomia




Julho, 2009 - Todas as férias são válidas. É verdade mesmo aquelas que não fazemos nada e ficamos em casa fazendo isso: nada. Às vezes é só o que queremos, não é! Bom, nestas férias não era isso que eu tinha em mente, nem mina esposa que estava ansiosa para curtir uma praia. Depois de muito avaliar resolvemos conhecer um lugar novo para nós: Jericoacoara. Eu já havia estado no Ceará há muitos anos e não tenho uma memória clara da experiência anterior. Contudo, minha esposa nunca tinha ido e resolvemos parar uns dias em Fortaleza com nosso filho.
A idéia foi chegar, descansar e “curtir” um city tour e em seguida ir para o beach park. O park aquático é realmente extraordinário. Mesmo sem ter feito nada além de cuidar do Artur foi tão bom vê-lo em êxtase com tanta água e escorregadores que não me arrependo nem um pouco. Para quem tem ISIC há um desconto de 20%. Vale a pena pois o ingresso adulto custou R$ 95,00.
No dia seguinte fomos para Jeri. A viagem começou mal, pois o transfer do hotel marcou para às 8h e chegou às 9h30. Paciência... O trajeto é longo. Para quem vai em dois casais é 1000 vezes melhor pegar um transporte particular (leia-se camionete ou land rover, R$ 100 ou 150 por pessoa respectivamente), no nosso caso fomos de microônibus o que custou R$ 65 por pessoa. Detalhe: o Artur de 3 anos também teve que pagar. Foram sete horas e meia. Isso mesmo, você não leu mal. Os 300 e poucos quilômetros dão uma canseira ‘braba’. Quando chegamos em Jijoca, que é o município ao qual pertence a praia (distrito) de Jeri troca-se de ônibus para uma jardineira toda aberta sem ar condicionado, onde comemos poeira durante pelo menos 50 minutos. Em um 4x4, particular, você gastaria 4h direto (sem paradinhas desagradáveis) com grande parte do trajeto pela praia.
A esta altura você pode pensar que não vale a pena tanto sacrifico, mas vale. Jericoacoara é um lugar mágico. Tudo muito simples, pé na areia o tempo todo e um cenário deslumbrante. Ficamos hospedados no Hotel Mosquito Blue. Ótimo. Com uma infraestrutura razoável, o restaurante onde tomamos café da manhã fica na praia, cercado de árvores e coqueiros e um chapéu de palha que fazem sombra e permitem uma visão privilegiada da praia de Jeri. No hotel tem duas piscinas e duas ‘jaccuzzis’ , além de sauna úmida.
Em Jeri optamos por conhecer os restaurantes evitando repeti-los. É claro que depois de descobrir o Tonhão, Sabor da Terra, ficou difícil não voltar. Mas tivemos a oportunidade de experimentar vários. O primeiro foi o do próprio hotel. A comida estava saborosa, mas o preço e a quantidade deixam a desejar. A noite comemos no Carcará que os meus pais recomendaram intensamente. Gostei, minha esposa achou sem sal. O ambiente é ótimo e as meninas apesar de um pouco aéreas atendem bem e são simpáticas. Lá se você tiver com criança pode pedir que elas tem giz de cera e papel para distrair os baixinhos. Nós comemos a sugestão do chefe, uma moqueca de peixe. É necessário dizer que minha esposa gosta de uma pimenta e de uma comida bem temperada e não foi o caso.
No dia seguinte ficamos na praia de Jeri. Não estava assim uma Brastemp porque este ano choveu demais e ainda havia muita areia em suspensão o que encobria o verde azulado característico do mar deixando uma impressão de rio. A duna do por do sol fica ao lado da praia é onde todos sobem para ver o sol se esconder no mar, uma visão linda. Neste dia almoçamos no Leonardo Da Vinci. Que maravilha!! Um espetáculo apesar do meu prato não ter sido assim o melhor, minha esposa pediu um filé com gorgonzola que enche a boca de saliva ainda hoje ao pensar nele. Eu comi uma massa feita lá, ótima, mas o acompanhamento, ou seja, o molho não me agradou muito. A carta de vinhos é excelente também, mesmo a taça era de um bom vinho.
No dia seguinte permanecemos na praia de Jeri e acertamos o passeio para as lagoas para o dia seguinte. E aproveitamos para andar um pouco na praia até a praia vizinha passando pelas pedras. Foi muito gostoso. O dia lá passa sem preocupação escorre lentamente como a areia nos dedos do meu filho. Paz e beleza que alegram o olhar.
O dia seguinte fomos a Tatajuba. Nossa que lugar lindo! No caminho passamos pela duna do funil que é altíssima e o Artur (3) topou descer no skibunda. Eu e a Marcella também descemos. Achei graça quando o cara disse para nos convencer que era R$ 5 e podia descer quantas vezes quisesse. Depois de descer e mergulhar na lagoa verdinha lá embaixo parece que a gente vai de novo, mas a subida desmotiva totalmente. Que canseira! Cheguei lá em cima e ouvi ele dizendo para outro desavisado se descer quatro vezes não paga! KKKKKKK. Só o Artur desceu de novo e claro o menino que desceu com ele o trazia no braço de volta. Impressionante a disposição deles que descem diversas vezes pois buscam o ski lá embaixo sempre que alguém desce e andam para chegar na duna com seus isopores pelo menos uns 2Km.
Em Tatajuba há redes na água. Um deleite. A comida é um caso a parte. Quando pedimos o cardápio o garçom trouxe uma bandeja com lagosta, camarão e peixe. Escolhemos a lagosta e o camarão pois não sabíamos se o Artur ia gostar de lagosta. Bom ele e nós comemos até nos esbaldar. A lagosta servida fartamente (pelo menos 8) passadas na brasa e o camarão e acompanhamentos. Nossa! Estava maravilhoso. O preço então! Pelas lagostas eu me lembro, pagamos R$ 40,00.
Pedimos algumas dicas para o bugueiro que falou dos restaurantes da Dona Amélia e do Tonhão. Fomos experimentar a Dona Amélia e para a Marcella o melhor arroz de Jeri. O camarão estava ótimo. Não resistimos e comemos de novo na Dona Amélia e aí uma moqueca de peixe que estava divina na noite do dia seguinte.
Durante este dia fomos à lagoa do coração e à Barrinha. Piscinas de água de chuva no meio das dunas. A água transparente o calor incrível e o convite inevitável ao banho. Experimentamos um camarão na lagoa do coração que também estava muito bom, apesar do preço não ser assim tão convidativo , R$ 20 por dez camarões grandes. O almoço este dia foi na praia de Azul do Mar. Um restaurante apreciado pelo Guia Quatro rodas e que faz jus a sua estrela. Comemos um peixe maravilhoso!! Super simples o espaço do restaurante fica na areia e o restaurante em si, cozinha e etc, fica do outro lado da rua. A praia do Preá, endereço do rest., é o paraíso para o kite surf com um vento permanente.
No dia seguinte descobrimos o Tonhão. O restaurante Sabor da Terra fica na rua do Forró, a mesma do Carcará e da Dona Amélia. O sabor e o preço são incomparáveis. Comemos muito bem, fomos bem servidos e não pagamos muito por isso. Resultado voltamos outras duas vezes. Comemos lá lagosta e camarão. No Carcará voltamos mais uma vez para fazer a prova dos nove, mas de novo não foi 100% pois o bobó de camarão que minha esposa pediu estava muito sem graça. O risoto que eu pedi de camarão estava bom. Mas o preço lá não é muito convidativo, para pagar R$ 100,00 na conta preferi o Leonardo Da Vince que fica na principal mais abaixo da onde a rua se fecha para o tráfego de carros.
No caso do passeio de buggy sugiro uma visita na rua principal à associação de bugueiros, assim você fica respaldado até pra negociar com outros bugueiros que chovem nos hotéis.

Em Fortaleza

Comemos em diversos restaurantes indicados pela Revista Veja. Entre eles: Vignoli (Pizzaria), Sal e Brasa (churrascaria) e Lô (contemporânea). Disparado o melhor deles sem dúvida nenhuma foi o Lô. Uma surpresa hiper agradável com um bacalhau que está entre os melhores que já comi na vida. Olha que a minha Vogra (Vó da minha esposa) é portuguesa e faz um bacalhau divino. E conheço também o do Antiquarius e um outro maravilhoso aqui da Chapada dos Guimarães conhecido por Restaurante Estilo, que já foi surpreendente e hoje não sei como anda porque as duas últimas visitas que fiz fiquei triste com o resultado (acho que a dona não cozinha mais e as cozinheiras ainda não conseguiram aprender 100%).
Bom é isto... Se eu lembrar de mais alguma coisa eu posto depois. Valeu!







tem no meu flickr algumas fotos da Pedra Furada.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Jodorowsky, o cara

Claudio de Oliveira
Da Reportagem

Um convite para ver Jodorowsky pode ser uma ofensa grave para toda a vida. Não leve ninguém ao cinema. Vá sozinho. Antes, porém, esqueça todo o preconceito em casa e liberte-se de qualquer expectativa exagerada especialmente em relação a algum sentido.

Alejandro Jodorowsky é um ser totalmente underground. Uma pessoa que dificilmente será compreendida ainda em vida, muito menos por aqui. Não digo aqui Cuiabá, digo aqui Brasil com a anuência de Hernani Heffner, que assina um ótimo texto no catálogo sobre o artista multimídia (que termo pobre!) que já foi exibido no Brasil, mas ainda não recebeu a devida atenção.

Começando do começo: Alejandro Jodorowsky nasceu no Chile em 1929 e continua vivo. Com 27 anos foi para o México, viveu lá por 17 anos e com 40 anos foi para a França onde vive até hoje. Diretor de cinema e teatro, ator, produtor, compositor, escritor, autor teatral, filósofo, humorista, especialista em tarô, mestre reconhecido dos quadrinhos e, segundo o próprio, psicomago.

Na abertura do livreto que acompanha a exibição dos seus filmes, Guilherme Marback e Joel Pizzini, curadores da mostra sintonizam o incauto espectador. “Polêmico, anarco-alquimista...” acusa a indústria hollywoodiana de roubar conceitos-chave do seu repertório em filmes como Alien, Blade Runner e Guerra nas Estrelas. Entre seus devotos estariam David Cronenberg, os irmões Coen e David Lynch. Uma das pessoas que ajudou na construção deste mito vivo foi John Lennon e a viúva, que distribuíram e financiaram o seu terceiro longa (Montanha Mágica) depois de se impressionarem com o segundo (El Topo), ambos presentes na mostra.

Ainda segundo os curadores, Jodorowsky é “filho de Fellini com Artaud”. Desde cedo teve um fascínio pelo surrealismo, flertou com Buñuel e André Breton. No teatro dirigiu peças de autores como Beckett, Ionesco e Strindberg. É fundador do movimento Pânico, uma homenagem ao Deus Pan, juntamente com Fernando Arrabal e Roland Topor. Na literatura aninha-se entre o realismo mágico e a realidade histórica. Nos quadrinhos suas parcerias com Moebius e Manara geraram duas obras-primas do gênero no mundo. Com Moebius lançou em 1975 (depois vieram outras obras juntos) Incal, uma HQ definida como anarco-ecumênica. Sobre a obra Alejandro fala: “Eu e Moebius misturamos tarô, cabala, Jung e o que sobrou de nosso Duna (romance de Frank Herbert). Como era muito adiantado para a época, não envelheceu”.

Da sua parceria com Milo Manara, mestre da HQ erótica, nasceu Bórgia. Uma série de Graphic-novels dividida em três partes que conta um pouco da transformação do Rodrigo Bórgia no Papa Alexandre VI. Para se ter uma ideia da obra ele explica: “embarquei nesta obra porque queria mostrar que a igreja foi fundada por gangsteres e bandidos”.

A sua psicomagia desenvolve-se a partir do conceito da arte mesclado com a psicanálise. Bom talvez a síntese não seja tão boa. Ele explica em uma entrevista eterna para a TRIP: “é uma terapia vinda da arte. A psicanálise vem da ciência. A psicomagia, como investigadora do inconsciente, propõe que este seja artístico, não científico. São obras de arte as terapias, não têm uma forma sempre igual.” Ele conta no livreto da mostra que tinha um amigo moreno, que não aceitava a sua cor, não se enquadrava nem como negro, nem como branco. Com a psicomagia ele o curou. Ele pintou o amigo de branco (dos pés à cabeça) e o colocou para andar na Champs-Elysées com uma negra. Depois no dia seguinte, pintou-o de negro e o colocou para desfilar no mesmo local com uma branca. No dia seguinte pediu que saísse ao natural com uma amiga sua, uma mulata. “No passeio se apaixonou, casou com ela e teve filhos. Nunca mais se preocupou com sua cor” finaliza Jodorowsky.

É impossível descrever ou traçar ao menos um mapa desta “entidade metafísica cujo nome está em toda parte e cujos filmes não se vêem em lugar algum” descreve Bráulio Tavares. A obra arte que é o livreto vale como uma iniciação, mas nada substitui o impacto visceral da sua obra. Na entrevista citada à TRIP perguntam a ele: - “Acha que estamos aqui para amar?”, ele responde: “Procurar o amor é como estar em um rio e sentir sede. Tudo o que está à nossa volta foi criado pelo amor. É só prestar atenção ao que você é.” Vai entender...

Tem uma ótima entrevista aqui publicada com trechos da revista Reserva Cultural. O Blog é do Ariel e chama "Ou o pensamento contínuo"


SERVIÇO:
O QUE: Mostra Jodorowsky
QUANDO: de 2 a 5 de setembro, sessões às 21 horas
ONDE: Cine SESC Arsenal
QUANTO: grátis

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O lado Oculto de Pessoa



Claudio de Oliveira
Da Reportagem

Um senhor com seus quase oitenta anos esteve em Cuiabá a revelar um segredo. Mantido oculto por setenta anos sob o pudor da sua família. O “Encontro Magick de Fernando Pessoa com Aleister Crowley” foi publicado por Miguel Roza em 2001 pela Hugin Editores. Dr. Luiz Miguel Roza Dias é médico, cirurgião geral e escritor, mas o que realmente chama a audiência é o seu parentesco com o mestre da língua portuguesa, o poeta e tradutor, Fernando Pessoa.
Miguel Roza é sobrinho do poeta e conviveu com o mesmo durante a sua primeira infância (até os seis anos), pois o mesmo morava em sua casa em Lisboa. A sua mãe era irmã de Pessoa e católica de formação o que provavelmente a levou a esconder, ou evitar segundo Roza, o envelope onde Pessoa escreveu Aleister Crowley. O envelope pardo ficou sob os cuidados da família enquanto o resto dos bens, a exceção das coisas mais pessoais, foram encaminhados para a Biblioteca Nacional portuguesa.
Situemo-nos: Fernando Pessoa - Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, 13 de Junho de 1888 e faleceu na mesma cidade em 30 de Novembro de 1935. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou-o, juntamente com Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Teve uma vida discreta, em que atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos. Segundo Roza ele teve uns 150 heterônimos. Para quem desconhece o dicionário Houaiss explica assim: “nome imaginário que um criador identifica como o autor de obras suas e que, à diferença do pseudônimo, designa alguém com qualidades e tendências marcadamente diferentes das desse criador.” Seria assim um fenômeno de personalidades múltiplas. Léo Schlafman fala em 72 heterônimos.
Por outro lado: Aleister Crowley (1875-1947), inglês, autor de renome e pintor, Mestre Supremo da Obediência Secreta da «Golden Dawn», monge tibetano e alpinista, espião, agente duplo, viajante e aventureiro, e já conhecido pela elite internacional como «o pior homem da Inglaterra». As obras (quase) completas de Crowley estão publicadas em http://www.hermetic.com/crowley/index.html. Entre outras coisas Crowley assinava 666 e pregava o poder supremo da Vontade. O ocultista influenciou, por exemplo, o músico Raul Seixas, notadamente na canção ‘Viva a Sociedade Alternativa’.
Na época o mago já era odiado pelos religiosos especialmente por suas táticas de libertação da vontade que incluíam drogas e sexo segundo seus detratores. Desse modo, ficam claros os motivos pelo qual a família (no caso a irmã) não queria que as pessoas soubessem mais detalhes do encontro. Na verdade este encontro não se resumiu a um ou dois dias em Portugal, mas sim a uma série de cartas trocadas por ambos que hoje são chamadas Dossier Pessoa-Crowley e que inclusive foram vendidos em leilão realizado em Portugal em novembro de 2008. Segundo o jornal Correio da Manhã: “Dossier Pessoa-Crowley Para Desconhecido - O dossier que reúne a correspondência entre Fernando Pessoa e o ocultista britânico Aleister Crowley, um dos destaques do leilão de bens do poeta realizado ontem à noite (dia 13-11-08) no Centro Cultural de Belém, foi arrematado por 50 mil euros através de um telefonema, a repercussão foi publicada pela blogueira Maria Manuel que lamentou a saída deste e de outros pertences do mestre português, você acha mais sobre o assunto no link: http://marcadordelivros.blogspot.com/2008/11/segundo-o-jornal-correio-da-manh.html. Este dossier tem por volta de 800 páginas e tem as cartas que Fernando Pessoa trocou com Crowley já que as enviadas eram datilografadas na máquina com auxílio de um “químico” (carbono) segundo Roza. O sobrinho então de posse deste material organizou um livro citado lá em cima e que ganha agora uma segunda edição por outra editora. Entre os documentos estão jornais da época que dão conta do “suicídio” de Crowley ao qual Pessoa auxiliou e repercutiu nos jornais.

Pessoa Esotérico
Na sua palestra sobre o Pessoa esotérico ele falou sobre este encontro e sobre os estudos de Pessoa sobre alquimia, magia, astrologia, teosofia e tantas quantas fossem as ciências ocultas, todas pareciam interessar ao intelecto do poeta. Quiromancia, estudo da face, das mãos, mapas astrais que Pessoa fez para si, seus familiares, heterônimos e uma enormidade de pessoas famosas e até entes abstratos. A propósito destes mapas foi a sua fluência no assunto que instigou o mago a querer encontrá-lo em Lisboa. Ele escreveu a Crowley: “Se tiverem, como provavelmente têm, oportunidade de comunicar com o Sr. Aleister Crowley, talvez possam informá-lo de que o seu horóscopo não está correcto e que, se ele admite que nasceu às 23h. e 16m. 39s. de 12 de Outubro de 1875, terá Carneiro 11 no seu meio-céu, com o correspondente ascendente e cúspides. Encontrará então as suas direcções mais exactas do que provavelmente as encontrou até agora. Isto é mera especulação, claro, e peço desculpa de vos maçar com esta intromissão puramente fantasista no que é, afinal de contas, apenas uma carta comercial.” A citação está em um estudo da Universidade Nova de Lisboa que pode ser encontrada aqui: http://www2.fcsh.unl.pt/deps/estudosalemaes/Pubs/P_Helena_Barbas_29_Jan_2003.asp
Para Léo Schlafman que publicou alguns artigos no Jornal da Poesia sobre Pessoa: “Goethe, como Fernando Pessoa, foi devoto cultor das ciências mágicas; iniciado numa loja maçônica desde os anos juvenis, pertenceu sucessivamente a várias sociedades secretas de fundamentos ocultistas... "Não procures, nem creias: tudo é oculto", disse Fernando Pessoa, para ser depois contraditado por Alberto Caeiro(heterônimo) que afirmou: "O único sentido oculto das coisas / é elas não terem sentido oculto nenhum." Sua mediunidade o levou às práticas ocultistas, à defesa da Rosa-Cruz e da maçonaria, à astrologia, à numerologia. Um intelectualista do tipo que ele era fez entrar na construção mental o que podia caber: o inteligível e o ininteligível, o racional e o irracional, o visível e o invisível, o claro e o misterioso, constituindo um sistema mágico nas suas conclusões embora desprovido de comprovação objetiva. Tudo se passou como se a subliteratura mística de onde extraía alento, ao atravessar seu cérebro privilegiado, saísse do outro lado filtrada e rarefeita do ponto de vista estético.”
Entre outras coisas Luis Miguel contou ao DC Ilustrado que seu tio se apaixonou pela namorada de Crowley. O mago tinha 54 anos, Hanni Larissa Jaeger tinha 19, e Pessoa, 42. O encontro teria motivado o primeiro poema erótico do poeta. Roza afirma que é impossível dizer se Pessoa era mesmo iniciado na maçonaria já que o mesmo negou em um artigo. Após a conclusão da palestra que aconteceu no Palácio da Concórdia uma das pessoas presentes perguntou como a família reagia aos heterônimos e qual efetivamente mais se parecia com o Fernando Pessoa. Ele respondeu: “É impossível saber, para nós era uma brincadeira. Para ele não sei dizer. É provável que ele era todos e nenhum. Acho que ele dissociava-se a si próprio para encontrar a si mesmo”.

Publicado originalmente na edição de 23-08-09 do Jornal Diário de Cuiabá

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Re-mecanica da palavra






Underdogs
A viola caipira e rock"n roll dos Viralatas

Fama de malucos, jeito de quem não tá nem aí pro mundo, eles provam que as aparências iludem. No show, propostas definidas, inspirações libertárias e políticas


Leidiane Montfort
Da Redação do Jornal A Gazeta (MT)

Depois de um show marcante no Cine Teatro Cuiabá o grupo Os Viralata volta ao palco. Mas ninguém garante que será da mesma forma, jeito ou pegada que surpreendeu os que compareceram ao lendário teatro na Capital. Afinal dos irmãos Eduardo Ferreira e André Balbino pode se esperar quase tudo. Fama de malucos, jeito de quem não tá nem aí pro mundo, eles mostram que a aparência ilude, afinal o próximo show da banda vem com marcas e propostas bem definidas e inspiração libertárias e políticas. E pelo menos a promessa é de uma apresentação para fisgar os amantes do bom, velho e gostoso rock"nroll.

Criado a partir das violas caipiras e inspirações do rock dos irmãos André Balbino e Eduardo Ferreira, Os Viralata é composto por Anna Marimon ( poeta), Amauri Lobo, Danilo Bareiro e Rubens Lisboa. Juntos eles vêm realizando pesquisas sonoras com as violas e buscam ampliar suas possibilidades para além dos modismos. A proposta é de explorar as infinitas combinações que a viola oferece. O trabalho está em fase de transição e perspectiva de uma mini turnê nacional passando por Recife, Florianópolis, Brasília e Porto Alegre, o objetivo é ainda interagir com artistas locais.

O som da banda traz blues, rock"n roll, pagode mineiro, umas classicosas fakes inventadas, funk, samba, brega. Tudo numa salada mista de experimentações de músicas de autoria de Eduardo Ferreira e André Balbino que são ancoradas por experientes músicos do cenário matogrossense e também de performance de interpretação e poesia com Anna Marimon, primeira-dama do bando. "Flertamos com vários estilos mas a viola transcende a qualquer rótulo", declara Ferreira.

Re-Mecânica- Os Viralata se apresentam nesta quinta na festa que é uma releitura de um "furdunço" cultural que aconteceu em 1983 em Cuiabá, em que os artistas independentes da terra em que se dizia encontrar jacarés nas esquinas e cobras e índios por todos os lados queriam se firmar que eram mais que isso. E eram. "Naquela época a Mecânica da Palavra conseguiu criar um cenário de postura política e social em que se firmava fortemente a postura do que nós defendíamos e acreditávamos de princípios libertários e anarquistas. Rolou muita loucura, claro, mas tudo era dentro do contexto daquele momento. Agora a Re-Mecânica se propõe a ser um evento de efervescência da cultura urbana de Cuiabá. Uma emblemática pausa para reflexões",.

O evento multicultural vai contar com participação de poetas, músicos, palhaços, atores e artivistas. A Re-mecânica acontece nesta quinta, dia 13, no Clube Feminino, na rua Barão de Melgaço, próximo à Cemat, a partir das 18 horas. O evento marca ainda o lançamento do movimento Música Para Baixar MPB- em Cuiabá, um movimento nacional que alia princípios de tecnologias livre, direito autoral flexível, cultura colaborativa, cultura livre, cultura digital, enfim, o movimento é libertário e se norteia por princípios autogestionários. "Uma espécie de "faça você mesmo", com um avanço para o "façamos nós mesmos". Um contraponto ao capitalismo voraz, uma atitude frente ao mundo insano do consumismo desenfreado e inconsequente", na opinião do artivista.

BOX


MPB- Música Popular Para Baixar- Essa é outra paixão do viralata Eduardo Ferreira. O movimento busca discutir o futuro da distribuição dos produtos da Indústria Cultural como músicas, livros, peças, etc. "A dinâmica do mundo mudou, o que estamos questionando é o direito à liberdade de aceitar o que é imposto. Queremos a flexibilização dos direitos autorais", declara.

Eduardo lançou o livro Eu Nóia em que aplica o conceito de obra compartilhada e autoriza a divulgação do que nele está impresso. "O pensamento é o de expandir o alcance da sua obra, querer compartilhar o que você fez, ou está fazendo, com o mundo. Muitos artistas estão se juntando nesse esforço como Tico Santa Cruz, Leoni, Teatro Mágico, dentre tantos outros. Não dá para fingir que os tempos não mudaram, a dinâmica de produção e divulgação são outras. É preciso pensar no futuro, uma vez que as atuais estruturas de direitos autorais estão mais do que ultrapassadas e falidas, como o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) em que só se ouve falar mal, e que não dão conta da realidade trazida com a Internet. Afinal, quem é capaz de controlar a distribuição na internet?", questiona.

O que parecia brincadeira está se espalhando e formando redes sem volta. A internet revolucionou as estruturas da indústria cultural e suscita novas discussões na sociedade. Hoje quando o artista compõe uma obra, automaticamente ele já está protegido por direitos autorais. Esses direitos, na visão de Eduardo, funcionam como instrumento de manutenção de poder. Para exemplificar o músico cita a lei que ficou conhecida como Mickey Mouse, segundo a lei o ratinho mais famoso do mundo ao completar 70 anos entraria em domínio público (livre acesso e divulgação). Perto do prazo expirar, graças ao lobby forte dos empresários norte-americanos, o prazo se estendeu para 90 anos. "Há toda uma indústria que luta forte para manter essa estrutura. Só eles lucram, os artistas não".

O intuito do MPB é fazer as obras circularem. "É quebrar a normalidade do sistema. Mas tem gente que não aceita, são os que se assustam com esses princípios libertários. Cenário que aponta uma grande falta de informação sobre o anarquismo, que não é bagunça e sim uma organização social coletiva para a qual o mundo se encaminha", pensa Eduardo.

Mas como ficam os direitos de quem cria e seus lucros? Eduardo conta que escreveu uma tese em que se aprofunda nos novos modelos de negócio. Mas adianta que é preciso pensar diferente. No mundo em que segue o trilho do software livre o pensamento fransciscano é a tônica do processo. "Quem dá recebe. O problema é que por muito tempo o pensamento foi de apenas receber. Agora, as lógicas que funcionam são completamente novas, com sensibilização e responsabilidades mais humanas. O novo sempre vem e é preciso estar atento", finaliza.

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Só pra reforçar o evento é gratuito e todos serão convidados a participar do modo que bem entenderem.

Até lá!!!

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Re-mecanica da palavra

Cuiabá sediará pré lançamento do movimento Música Para Baixar – MPB. Movimento nacional do segmento musical que alia princípios de tecnologias livre, direito autoral flexível, cultura colaborativa, cultura livre, cultura digital, enfim, o movimento é libertário e se norteia por princípios autogestionários. Uma espécie de “faça você mesmo”, com um avanço para o “façamos nós mesmos”. Um contraponto ao capitalismo voraz, uma atitude frente ao mundo insano do consumismo desenfreado e inconsequente.

Dia 13 é um marco para a cultura cuiabana e matogrossense, pois remonta a um evento-movimento de 1983 que demarcou o início da arte urbana e contemporânea por essas bandas de cá. O evento promete e está mobilizando muita gente.

Bandas confirmadas: osviralata, fuzzly, branco ou tinto, tocandira, lopez, lobo trio, pio toledo & ellen, mandala soul.
Além das bandas teremos audiovisual matogrossense, video-clips locais, performances, teatro de bonecos, som de roda, mural-documentário (anos 80, 90 e 2000), enfim, será o point de (re) largada para uma intensa mobilização de artistas matogrossenses que lutam por um mundo melhor.

links:
http://www.fotolog.com.br/tudomentira
http://osviralatadaviola.wordpress.com
http://overmundo.com.br/agenda/re-mecanica-da-palavra

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cidade de Pedra


Uma pedra e um ser empunhando um tacape e um escudo.

pelo menos foi isso que eu vi.

claro um por do sol mágico tecia a cena.

domingo, 21 de junho de 2009

Flores da mata Atlântica Paraty



Flores que vi e
colhi com as lentes

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Espía, vamo Twittá?

Você acredita em paranormalidade? Aquele fenômeno que ocorre além da natureza, ou melhor, sobrenatural. Episódios de séries como Arquivo X e outros tantos, além de programas e até novelas apostam na paranormalidade para alavancar audiência. Se você acredita ou mesmo se concede o benefício da dúvida é compreensível, mas por conta disso você acompanharia um pesquisador no Twitter que propôs estudar o assunto?

Tudo bem você não sabe nem o que é Twitter? É um serviço de micro-mensagens instantâneas que podem ser enviadas por telefone ou pela página do Twitter para os seus followers, traduzindo: seguidores. É isso, celebridades ou não, as pessoas têm se cadastrado no site para enviar mensagens de até 120 toques instantaneamente àqueles que querem saber, teoricamente, o que eles estão fazendo.

No Brasil o serviço ainda tem poucos adeptos e mesmo jovens conectados ainda não têm direito a ideia do que é o serviço. Nos Estados Unidos e na Europa a brincadeira é uma febre ao ponto das pessoas comunicarem a ida ao médico, resultado de exames, humor e afazeres cotidianos permanentemente.

Esta sociedade hiperconectada que leva os amigos para o banheiro, incapaz que é de largar o celular por um minuto. Um exemplo de mensagem instantânea: “ok, a parada (gay) foi linda e coisa e tal, mas a sujeira que ficou na frente de casa é nojenta. me poupem. porquice imperou mais q purpurina. Afê” http://twitter.com/unhasescarlate a aproximadamente 21 horas ago from web.

Agora que você já sabe o que é o Twitter vamos voltar ao princípio. O cientista, psicólogo americano professor Richard Wiseman pediu para que um grande número de pessoas que acreditava ter poderes paranormais o seguissem via Twitter. Durante quatro dias seus seguidores foram desafiados a descobrir onde o professor estava descrevendo o ambiente. Em seguida ele mandava imagens (5) para que estas pessoas escolhessem onde ele estava. O resultado aponta para uma vontade de acreditar daqueles que se diziam paranormais, forçando às vezes correlações entre o local correto e suas ilações.

Como disse no começo, isso é o de menos, interessante é a gente notar que a ferramenta sócio-tecnológica pode ser utilizada com objetivos mais nobres do que simplesmente colocar a sua vida e opinião particular sobre o cotidiano em um aquário público.

Publicado originalmente no jornal Diário de Cuiabá

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ciência e fé




Como é maravilhoso ouvir ou ler opiniões sensatas especialmente quando elas vêm corroborar com a nossa visão de mundo. Sempre acreditei que Deus criou o universo e nem por isso deixei de acreditar na teoria da evolução. Parece um paradoxo ou algo difícil de se encaixar a princípio, porém neste domingo (14/06/09) deparei-me com uma entrevista incrível de um padre, jesuíta, chamado George Coyne, 76.
Coyne ganhou o prêmio Van Biesbroeck, da AAS (Associação Americana de Astronomia), concedido àqueles que prestam "generosos serviços de longo prazo" à comunidade acadêmica de astrônomos. A entrevista foi concedida ao Rafael Garcia, da Folha de SP e foi publicada no caderno Mais (um dos melhores cadernos do mundo, em minha opinião).
O padre George é americano, formou-se em matemática e tem doutorado em astronomia. Ele dirigiu por 28 anos o Observatório do Vaticano e um dos maiores motivos da sua premiação pela AAS foi a criação do curso de verão de um mês em astrofísica. O curso inseriu pelo 275 jovens (62% de países em desenvolvimento) no mundo da astronomia. Foram onze edições. Além disso, Coyne escreveu livros aproximando a ciência da religião e vencendo deste modo certos tabus.
A sua entrevista é muito esclarecedora e vale a pena ser lida na íntegra. Pretendo fazer um recorte com aspas para momentos marcantes da mesma.
Segundo Coyne a partir da encíclica "Providentissimus Deus", de Leão 13, a igreja começou a se posicionar de maneira mais clara em relação à ciência: “você deve interpretar as escrituras de acordo com a técnica literária. Você não pode interpretá-las literalmente”. O doutor continua e dá uma aula para quem ainda não entendeu: “não há nenhuma ciência nas escrituras. As escrituras começaram a ser compostas por volta de 5.000 a.C., com o patriarca Abraão, até cerca de 200 d.C., mais ou menos. A ciência moderna começou a existir entre os séculos 16 e 17. Como poderia haver alguma ciência nas escrituras? Há uma separação de pelo menos 1.500 anos entre a redação final das escrituras e a ciência moderna. Então, não há nenhuma ciência nas escrituras. Zero.”
Rafael o questiona sobre a polêmica com Galileu já que estamos comemorando os 400 anos das observações de Galileu com o intuito de entender o por quê de a igreja pedir perdão a Galileu Galilei tanto tempo depois (isto foi feito por João Paulo 2º em 2000). Coyne conta que mesmo antes de ser Papa, enquanto era cardeal-arcebispo de Cracóvia, ele costumava promover encontros de cientistas, filósofos e teólogos. Quando assumiu o papado ele percebeu, ainda segundo Coyne, que o caso Galileu ainda era um mito. Então, ciente disso, montou uma comissão para estudar se havia um conflito intrínseco entre a crença religiosa e a ciência, tendo como cerne Galileu. O gesto foi simbólico, mas não resolveu a pendência, não para todos ainda há o fantasma de Darwin assombrando fiéis caolhos.
George faz mais uma revelação: “João Paulo 2º, em uma mensagem para a Pontifícia Academia de Ciências, disse que a evolução "não é mais uma mera hipótese". Disse que a paleontologia, a geologia, a biologia, a química e a cosmologia, todas convergem no sentido de que a evolução é a melhor teoria científica que temos hoje”. Como me faltam palavras para expressar com tamanha clareza faço das suas as minhas: “E uma coisa não está em contradição com a outra. Na verdade, se eu acreditar em Deus, o Universo em evolução me diz um bocado sobre Deus como criador inteligente. Ele criou um Universo que não é uma máquina de lavar, nem um carro, nem um relógio. Ele criou um Universo que tem um dinamismo e uma criatividade próprios. É um "se" importante.”.
Coyne explica que para ele o Big Bang (grande explosão que deu início ao universo como o conhecemos hoje) é a melhor explicação a partir das observações realizadas em telescópios. Mas é bem provável que ela seja sintonizada com as novas descobertas científicas. É assim que a ciência evolui, aos poucos se auto-criticando e se reavaliando. Contudo, o embate entre religião e ciência se dá especialmente quando um usa a própria metodologia para criticar o outro. Cito o exemplo que o sábio padre deu: “A ciência, como tal, não pode provar a existência de Deus nem prová-la falsa usando sua própria metodologia. Repito: ela se limita a procurar explicações naturais para eventos naturais. E se existe um Deus - a natureza própria de um Deus -, isso está além da natureza.”
Enquanto isso, sigo acreditando em ambos, na ciência e seu território imenso de atuação e em Deus, Onisciente, Onipotente e Onipresente. Qualidades intrínsecas e que a meu ver definem Quem é Deus.

Publicado originalmente por mim no blog: www.mtaqui.com.br

terça-feira, 9 de junho de 2009

Maratona museológica


Um dia. Parece pouco, né!? Na verdade meio dia foi o suficiente para tomar um banho de museu em São Paulo. Banho talvez não seja a palavra mais apropriada com todo o frio que estava na metrópole. Sem chuva, sol brilhando e vento gelando as orelhas. São Paulo tem a característica de uma oferta cultural plural. Teatro, cinema de arte, exposições, shows, enfim, uma infinidade de opções que deixa dúvida.

Parte do problema da escolha foi solucionada de pronto. Eu teria praticamente uma tarde o que excluía shows e teatros e dificultava o cinema pois me imobilizaria por mais de duas horas facilmente reduzindo a diversidade do menu.

Optei pelas artes visuais. O ano da França no Brasil me acompanhou durante o dia primeiro no MASP com a exposição “Arte na França: 1860-1960: O Realismo”. Clássicos como Monet, Renoir, Picasso, Van Gogh, Dali, e muitos outros que produziram trabalhos realistas neste período na França encantam e abduzem mesmo os mais frios. Ainda no MASP desço para o último piso e me deleito com uma exposição do Vik Muniz. Mesmo com diversas pessoas torcendo o nariz para ele eu aprecio o seu trabalho a várias Bienais, e tive a oportunidade de assistir a um documentário em meio à exposição que ele relatava o seu processo de criação. Reconheci-o como um bibliófilo ferrenho e finalmente, digeri de maneira adequada seus meninos de açúcar. Ele contou que se inspirou em uma poesia do Ferreira Gullar que narra a origem do açúcar, o quão amarga é a vida daqueles que adoçam o nosso café colhendo e moendo a cana. Nossa! O Gullar é incrível e a representação é extremamente apropriada e difícil de descrever em um espaço tão exíguo.

Parti para a segunda parte, ou deveria dizer segunda casa. A Pinacoteca encerra uma exposição também em homenagem ao ano francês-brasileiro com fotógrafos de ambas as nacionalidades intitulada: “À procura de um olhar”. Entre as duzentas imagens, diversas estonteantes, Pierre Verger, Marcel Gautherot, Tiago Santana e Mauro Restiffe. Ainda na Pinacoteca pude apreciar um francês estudioso das formas e das cores que me deu a sensação de estarmos apenas copiando-o 50 anos depois: Ferdinand Léger (1881-1955). Fiquei com a sensação de que a arte em quadros chegou a um beco sem saída. É preciso a performance, o vídeo, a fotografia talvez, não sei, as instalações contemporâneas que nos digam.

Ainda tive tempo, antes de ir ao lançamento do livro do Claudio Willer (Geração Beat), de explorar o Museu da Língua Portuguesa. É, não foi um banho, mas com certeza foi uma maratona. Dentro do meu tempo volto para comentar o livro do Willer que parece ótimo.

Cuiabá


Uma das imagens que mais gosto de Cuiabá é uma lua cheia que fiz a anos e ainda continua bela...
Não se você também acha!?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Antropologia da corrupção

Quando pensamos na corrupção instalada no sistema político brasileiro logo dá um desânimo geral. O que posso eu fazer para que isso mude? Por que quem deveria cuidar do dinheiro público mete a mão descaradamente? Há quem invoque a “Constituição” portuguesa do século XVI que imputava aos criminosos o desterro para o Brazil. Ou seja, formado com este tipo de gente não poderia dar em outra coisa. Os defensores desta tese insistem comparando o tipo de colonização que tiveram os Estados Unidos da América. Para lá foram ingleses descriminados por sua fé a fim de criar um novo país onde reinasse a liberdade. É uma visão linda e poética, mas também muito simplista.

Precisamos obviamente levar em conta os milhares de indígenas que habitavam ambos os territórios e que aqui se misturaram aos portugueses inicialmente e ulteriormente aos demais imigrantes que por aqui pisaram. Lá os nativos americanos foram dizimados, aqui apesar da matança ou uma diplomacia porosa que envolveu os brancos europeus, os índios e os negros. Diga-se de passagem, estes últimos emprestaram segundo Pierre Verger, antropólogo francês naturalizado brasileiro, mais especificamente baiano, o sangue real da mãe África. Sua tese rastreou os ascendentes dos escravos trazidos para a Bahia e demonstrou que milhares provinham de famílias reais que foram subjugadas por europeus ou mesmo tribos rivais na África.


Como diz o carioca: ‘e o Kiko?’, quer dizer e eu com isso. Pois é. A nossa arvore genealógica não explica a atual situação brasileira, nem mesmo a americana. É certo que o desejo de fundar um novo país e o desejo de pilhar o novo território influenciaram na ordem natural das coisas, mas a independência de ambos os países está distante a centena de anos.

Voltando ao caso específico brasileiro o que vemos é uma cultura perniciosa. O jeitinho, a valorização do ‘esperto’ e o desejo de se tornar um. Frases como: “se fosse eu saía de lá rico” ou “você é burro, todo mundo rouba…”. O poder público brasileiro executivo, legislativo e judiciário está podre do cabo ao rabo. Quem deveria fiscalizar negocia aprovação de contas. Quem deveria julgar vende sentenças. Quem deveria executar obras distribui as mesmas recebendo comissões gordas para, supostamente, garantir a próxima eleição.
Aí temos que ouvir imbecis como este deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) que expressou sob o fogo cruzado e com nervos a flor da pele o que parece estar na cabeça de todos os parlamentares que está “se lixando para a opinião pública”.

A cultura deve mudar. Se eu quero que as pessoas sejam honestas, primeiro tenho que sê-lo. Se o guarda parar e tiver errado, está errado, não vá tentar dá um jeitinho.Se estou em um cargo público deve atender ao público e não aos meus interesses privados. A administração pública deve ser um ato de sacrifício em nome da coletividade. Você abandona, em partes, o convívio familiar e seus negócios privados em nome da sociedade. Você está se doando para a comunidade local, estadual ou nacional. Enquanto as pessoas encararem o investimento da função pública como um privilégio, estaremos fadados a ver enriquecimento ilícito e má utilização da verba pública.

Por que ao constatar bens incompatíveis com o poder de compra a Receita Federal não questiona as ilustres autoridades, inclusive juízes, desembargadores, deputados federais, estaduais e nobres vereadores? Por que um fiscal da Receita com lancha importada, carro idem, casa no Manso e outras cositas más continua sendo responsável pela fiscalização de tributos? Por que denúncias contra “autoridades” nunca são levadas até o fim?

Ser conivente e até ansiar o lugar destes vermes que apodrecem o sistema público brasileiro é mais comum do que se indignar e procurar fazer algo concreto pelo bem da comunidade. Deixo aqui um desabafo e uma dica para nossos queridos editores de política: quantos funcionários públicos foram demitidos com justa causa nos últimos dez anos na prefeitura de Cuiabá e/ou no governo do estado? Será que são todos eles honestos e eficientes, ou somente intocáveis que seguram os rabos dos próprios chefes além de andarem com os seus próprios sujos.

* CLAUDIO DE OLIVEIRA é jornalista e publicitário, mestrando em Estudos Culturais no ECCO-UFMT e repórter do DC Ilustrado

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Um Show Inesquecível




Ela entrou com dez minutos nobres de tolerância. A rainha dominou o palco no primeiro suspiro. Sua voz sem esforço preenchia cada poro do corpo, eriçava o pelo até daqueles que estavam ali apenas para acompanhar um ou uma fã. A majestade de Maria Bethania impõe-se não só pela voz, mas também por sua postura rica em sentido e sentimento que transbordaram pelo Centro de Eventos do Pantanal, na noite de quinta-feira.

A casa lotada e o silêncio reverente da plateia que ovacionava a cada música impunham mais respeito. Ela abriu com “Nana” e em seguida “Beira-mar”, um sucesso poético cujo refrão guarda uma verdade suave como o vento: “Em todo o mar tem rio, e em todo o seu som tem ar e oxigênio para alimentar a todos nós”.

Em seguida entoou o hino do sertão: “Asa branca”. E o mar adentrou o Pantanal e sua religiosidade atravessou o público com o “Capitão do mato”. Em seu caminho entremeava músicas mais agitadas e mais introspectivas com uma energia de deixar as novas cantoras da MPB brasileira babando na sua verve. “Explode o coração”. Vibra a plateia de pé totalmente dominada e submissa a sua “Estrela D’alva”. Um pé no freio, uma poesia e os “Olhos nos olhos” levantam a multidão. Os aplausos, gritos e manifestações de carinho envolvem a artista, que agradece repetidas vezes: “Obrigada, senhores!”

Então ela se retira do palco após a “Volta por cima” e abre espaço para um show instrumental. Senhores de cabelo branco, média idade e mais novos dão um espetáculo a altura da sua voz enquanto a abelha-rainha respira para retornar ao controle da colmeia. Bateria, percussão rica, violoncelo, contrabaixo acústico, teclado, sanfona e violão, uma corte digna de sua majestade.

Retorna em “Reconvexo” e convida para a Bahia depois de oferecer o “Doce”. Um samba gostoso com cheiro do acarajé e a levada do candomblé. Em seguida introspectivamente, a doçura de um “Sábado em Copacabana”. Os pés no chão, o patuá no peito guardado por dois cavalos marinhos brilhantes davam o tom do figurino simples completado por uma saia estampada e um pulso cheio de pulseiras douradas.

Em ritmo de oração Terezinha dá lugar ao lamento: “Negue, negue que me pertenceu, diga que já não me quer...” E eis que chega uma carta e a poesia eriça o público que responde de pé. “Todas as cartas de amor são ridículas. As cartas de amor têm que ser ridículas. Quem me dera saber no tempo em que as escrevia que eram ridículas. Eu também escrevi cartas ridículas. Mas enfim as pessoas que nunca escreveram uma carta de amor é que são ridículas”.

Uma pausa para agradecer o convite novamente e lembrar da extraordinária Vanessa da Mata. “Em nome dela e de todos os músicos, poetas e artistas desta linda cidade e deste lindo estado, obrigada pelo convite”, suspira Bethânia.

Depois de sonhar um “Sonho impossível”, a gente não quer só “Comida”, a gente quer diversão e arte. A gente quer inteiro e não pela metade. Uma versão pausada e pesada. Uma ordem da rainha, mais arte, desejo, necessidade e vontade.

Então um lamento, uma suave melodia elocubrando as estrelas e a beleza do “Céu de Santo Amaro” recheado pelo Soneto de Fidelidade do inesquecível poetinha Vinicius de Morais. Em seguida um samba para elevar a moral e lavar as lágrimas salgadas da poesia. Como não poderia deixar de ser o bis: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”.