segunda-feira, 15 de junho de 2009
Ciência e fé
Como é maravilhoso ouvir ou ler opiniões sensatas especialmente quando elas vêm corroborar com a nossa visão de mundo. Sempre acreditei que Deus criou o universo e nem por isso deixei de acreditar na teoria da evolução. Parece um paradoxo ou algo difícil de se encaixar a princípio, porém neste domingo (14/06/09) deparei-me com uma entrevista incrível de um padre, jesuíta, chamado George Coyne, 76.
Coyne ganhou o prêmio Van Biesbroeck, da AAS (Associação Americana de Astronomia), concedido àqueles que prestam "generosos serviços de longo prazo" à comunidade acadêmica de astrônomos. A entrevista foi concedida ao Rafael Garcia, da Folha de SP e foi publicada no caderno Mais (um dos melhores cadernos do mundo, em minha opinião).
O padre George é americano, formou-se em matemática e tem doutorado em astronomia. Ele dirigiu por 28 anos o Observatório do Vaticano e um dos maiores motivos da sua premiação pela AAS foi a criação do curso de verão de um mês em astrofísica. O curso inseriu pelo 275 jovens (62% de países em desenvolvimento) no mundo da astronomia. Foram onze edições. Além disso, Coyne escreveu livros aproximando a ciência da religião e vencendo deste modo certos tabus.
A sua entrevista é muito esclarecedora e vale a pena ser lida na íntegra. Pretendo fazer um recorte com aspas para momentos marcantes da mesma.
Segundo Coyne a partir da encíclica "Providentissimus Deus", de Leão 13, a igreja começou a se posicionar de maneira mais clara em relação à ciência: “você deve interpretar as escrituras de acordo com a técnica literária. Você não pode interpretá-las literalmente”. O doutor continua e dá uma aula para quem ainda não entendeu: “não há nenhuma ciência nas escrituras. As escrituras começaram a ser compostas por volta de 5.000 a.C., com o patriarca Abraão, até cerca de 200 d.C., mais ou menos. A ciência moderna começou a existir entre os séculos 16 e 17. Como poderia haver alguma ciência nas escrituras? Há uma separação de pelo menos 1.500 anos entre a redação final das escrituras e a ciência moderna. Então, não há nenhuma ciência nas escrituras. Zero.”
Rafael o questiona sobre a polêmica com Galileu já que estamos comemorando os 400 anos das observações de Galileu com o intuito de entender o por quê de a igreja pedir perdão a Galileu Galilei tanto tempo depois (isto foi feito por João Paulo 2º em 2000). Coyne conta que mesmo antes de ser Papa, enquanto era cardeal-arcebispo de Cracóvia, ele costumava promover encontros de cientistas, filósofos e teólogos. Quando assumiu o papado ele percebeu, ainda segundo Coyne, que o caso Galileu ainda era um mito. Então, ciente disso, montou uma comissão para estudar se havia um conflito intrínseco entre a crença religiosa e a ciência, tendo como cerne Galileu. O gesto foi simbólico, mas não resolveu a pendência, não para todos ainda há o fantasma de Darwin assombrando fiéis caolhos.
George faz mais uma revelação: “João Paulo 2º, em uma mensagem para a Pontifícia Academia de Ciências, disse que a evolução "não é mais uma mera hipótese". Disse que a paleontologia, a geologia, a biologia, a química e a cosmologia, todas convergem no sentido de que a evolução é a melhor teoria científica que temos hoje”. Como me faltam palavras para expressar com tamanha clareza faço das suas as minhas: “E uma coisa não está em contradição com a outra. Na verdade, se eu acreditar em Deus, o Universo em evolução me diz um bocado sobre Deus como criador inteligente. Ele criou um Universo que não é uma máquina de lavar, nem um carro, nem um relógio. Ele criou um Universo que tem um dinamismo e uma criatividade próprios. É um "se" importante.”.
Coyne explica que para ele o Big Bang (grande explosão que deu início ao universo como o conhecemos hoje) é a melhor explicação a partir das observações realizadas em telescópios. Mas é bem provável que ela seja sintonizada com as novas descobertas científicas. É assim que a ciência evolui, aos poucos se auto-criticando e se reavaliando. Contudo, o embate entre religião e ciência se dá especialmente quando um usa a própria metodologia para criticar o outro. Cito o exemplo que o sábio padre deu: “A ciência, como tal, não pode provar a existência de Deus nem prová-la falsa usando sua própria metodologia. Repito: ela se limita a procurar explicações naturais para eventos naturais. E se existe um Deus - a natureza própria de um Deus -, isso está além da natureza.”
Enquanto isso, sigo acreditando em ambos, na ciência e seu território imenso de atuação e em Deus, Onisciente, Onipotente e Onipresente. Qualidades intrínsecas e que a meu ver definem Quem é Deus.
Publicado originalmente por mim no blog: www.mtaqui.com.br
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Oi Claudio,
ResponderExcluirconcordo que as duas teorias não são necessariamente opostas. Há muito tempo, li uma entrevista com um cientista que acreditava também nas duas coisas, foi muito interessante.
Vou passar sempre por aqui!
Abraços,Bea