quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Arte de beber




A China tem seus encantos e mistérios e provavelmente eu volte a eles entre um e outro artigo. Estava caminhando na praça da Paz Celestial quando fui abordado por dois jovens chineses: Colin e Wilson, 21 e 23 respectivamente. Ambos estavam estudando o inglês e queriam praticá-lo comigo. Eu estava sozinho e mesmo relutando um pouco acabei por concordar em deixá-los me mostrar a cidade de Pequim.

É claro que a partir daí meus planos foram alterados. A minha ideia era ir direto para a Cidade Proibida, mas eles sugeriram que deveríamos seguir pela Dragon Line, a espinhal dorsal de Pequim por onde veríamos casas tradicionais e um bairro voltado para a arte.

No caminho encontramos uma galeria com obras lindíssimas repletas de sentido semiótico espelhado nas cores e formas dos tecidos de seda e traços de nanquim. As quatro estações são motivos frequentes nas telas chinesas.

Seguindo a nossa linha paramos novamente em uma casa de chá. Uma experiência extraordinária. Sem dúvida eu nunca entraria numa casa dessas sem a companhia deles. A casa modesta repleta de estampas de tecido coladas à parede tinha um tom fresco e calmante pela cor verde dominante. A hostess com um uniforme típico vermelho e unhas azuis nos recebeu calmamente. Fomos levados para uma sala pequena com uma mesa central atrás da qual ficou nossa chefe de cerimônia. Conforme ela ia apresentando os chás, onze ao todo, e suas características meus acompanhantes traduziam e me explicavam.

Uma pequena xícara para cada um. Fui ensinado a segurar a xícara com o polegar e o indicador mantendo os outros três dedos abaixo do recipiente. O chá deve ser cheirado e em seguida bebido em três goles. O primeiro era para o intestino. O segundo para o sangue. E assim sucessivamente renovamos os neurônios, articulações, ossos e experimentamos a força masculina e feminina dos diferentes chás.

O chá verde tinha um sabor especial. Quando comentei, Wilson me explicou que eu provavelmente nunca tomaria um chá tão saboroso em qualquer outra época, pois a Primavera é o melhor período para a colheita e este sabor era realmente singular.

O chá de jasmim também foi muito especial. Ela coloca o mesmo em uma mini-tulipa de porcelana e tampa com a nossa xícara. Então ela vira, deixando a nossa xícara embaixo com a tulipa de cabeça para baixo. Retiramos a tulipinha rodando em círculo na beirada da xícara para escorrer. Com ela ainda quente aproximamos a sua boca dos nossos olhos. A sensação é relaxante. Em seguida rolamos pela nossa face e esquentamos a nossa mão. Só então, bebemos. O tempo e gestos calculados e a cerimônia em si deixam na memória os traços da paciência e da história chinesa em um ritual simples e cotidiano.

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