terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Um ancestral de mil anos

Estive frente a frente com um ancião. Ele deve ter uns mil anos. Um ser vivo desta idade merece respeito. E não há outro modo de agir diante de um apuí de quarenta metros de altura. Para auxiliar a sua imaginação ele é da família Ficus, portanto primo da figueira. Se você colocar uma pessoa ao lado da outra até inteirar quinze, talvez possa assim cobrir a largura do tronco. Para abraçar a árvore precisaríamos de umas quarenta ou mais pessoas pois os seus pés(raízes) avançam para os lados tornando a sua base irregular com verdadeiras reentrâncias onde habitariam famílias inteiras.

O apuí nasce na grande maioria das vezes no ar. Quer dizer, na copa de outras árvores. Aos poucos suas raízes descem ao solo e ele começa a envolver a árvore que lhe serviu de berçário ao ponto de dominá-la completamente como era o caso deste ancião que eu conheci no seringal Novo Encanto.

O Seringal fica no município de Lábria no estado do Amazonas. Cheguei até lá via Acre depois de um dos maiores vôos diretos do Brasil, 3h20 de viagem non-stop. A cidade de Rio Branco está linda. Muito bem cuidada com praças públicas, ciclovias, prédios restaurados e a autoestima recuperada. O parque Chico Mendes, por exemplo, é um passeio imperdível. De Rio Branco ao Seringal foram duas horas de expresso Tubarão(ônibus) e mais uma hora e meia de caminhada em plena floresta Amazônica.

A Novo Encanto é uma ong que trabalha com o meio ambiente. Promove ações educacionais e sociais com intuito de gerar emprego e renda e transformar a percepção das pessoas em relação ao meio ambiente. Entre as ações em andamento está o projeto Encauchados de Vegetais da Amazônia que resgata o nome utilizados pelos índios para o emborrachamento de tecidos. O projeto ganhou reconhecimento nacional como uma tecnologia social e tem o apoio do Banco do Brasil e da Petrobrás.

O processo valoriza o saber local, ampliando as possibilidades de aceitação e desenvolvimento a partir de uma auto-gestão das comunidades indígenas e caboclas. O professor Francisco Salmonek é o responsável e sua pesquisa de mestrado já lhe rendeu três pedidos de patentes. Um dos pólos será instalado no Novo Encanto. Para se ter uma idéia do impacto disso na vida das comunidades tradicionais o quilo da borracha in natura é vendido no mercado por R$ 2, sendo que com o mesmo quilo beneficiado em produtos pela técnica desenvolvida pelo professor alcança R$ 50.

Viver a floresta. Conhecer o Apuí e a Samaúma, que é a maior árvore da Amazônia e ainda poder auxiliar com esta tecnologia social faz com que percebamos que apesar de pequenininhos perto destas gigantes, temos um enorme poder transformador.

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