segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O lado Oculto de Pessoa



Claudio de Oliveira
Da Reportagem

Um senhor com seus quase oitenta anos esteve em Cuiabá a revelar um segredo. Mantido oculto por setenta anos sob o pudor da sua família. O “Encontro Magick de Fernando Pessoa com Aleister Crowley” foi publicado por Miguel Roza em 2001 pela Hugin Editores. Dr. Luiz Miguel Roza Dias é médico, cirurgião geral e escritor, mas o que realmente chama a audiência é o seu parentesco com o mestre da língua portuguesa, o poeta e tradutor, Fernando Pessoa.
Miguel Roza é sobrinho do poeta e conviveu com o mesmo durante a sua primeira infância (até os seis anos), pois o mesmo morava em sua casa em Lisboa. A sua mãe era irmã de Pessoa e católica de formação o que provavelmente a levou a esconder, ou evitar segundo Roza, o envelope onde Pessoa escreveu Aleister Crowley. O envelope pardo ficou sob os cuidados da família enquanto o resto dos bens, a exceção das coisas mais pessoais, foram encaminhados para a Biblioteca Nacional portuguesa.
Situemo-nos: Fernando Pessoa - Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, 13 de Junho de 1888 e faleceu na mesma cidade em 30 de Novembro de 1935. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou-o, juntamente com Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Teve uma vida discreta, em que atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos. Segundo Roza ele teve uns 150 heterônimos. Para quem desconhece o dicionário Houaiss explica assim: “nome imaginário que um criador identifica como o autor de obras suas e que, à diferença do pseudônimo, designa alguém com qualidades e tendências marcadamente diferentes das desse criador.” Seria assim um fenômeno de personalidades múltiplas. Léo Schlafman fala em 72 heterônimos.
Por outro lado: Aleister Crowley (1875-1947), inglês, autor de renome e pintor, Mestre Supremo da Obediência Secreta da «Golden Dawn», monge tibetano e alpinista, espião, agente duplo, viajante e aventureiro, e já conhecido pela elite internacional como «o pior homem da Inglaterra». As obras (quase) completas de Crowley estão publicadas em http://www.hermetic.com/crowley/index.html. Entre outras coisas Crowley assinava 666 e pregava o poder supremo da Vontade. O ocultista influenciou, por exemplo, o músico Raul Seixas, notadamente na canção ‘Viva a Sociedade Alternativa’.
Na época o mago já era odiado pelos religiosos especialmente por suas táticas de libertação da vontade que incluíam drogas e sexo segundo seus detratores. Desse modo, ficam claros os motivos pelo qual a família (no caso a irmã) não queria que as pessoas soubessem mais detalhes do encontro. Na verdade este encontro não se resumiu a um ou dois dias em Portugal, mas sim a uma série de cartas trocadas por ambos que hoje são chamadas Dossier Pessoa-Crowley e que inclusive foram vendidos em leilão realizado em Portugal em novembro de 2008. Segundo o jornal Correio da Manhã: “Dossier Pessoa-Crowley Para Desconhecido - O dossier que reúne a correspondência entre Fernando Pessoa e o ocultista britânico Aleister Crowley, um dos destaques do leilão de bens do poeta realizado ontem à noite (dia 13-11-08) no Centro Cultural de Belém, foi arrematado por 50 mil euros através de um telefonema, a repercussão foi publicada pela blogueira Maria Manuel que lamentou a saída deste e de outros pertences do mestre português, você acha mais sobre o assunto no link: http://marcadordelivros.blogspot.com/2008/11/segundo-o-jornal-correio-da-manh.html. Este dossier tem por volta de 800 páginas e tem as cartas que Fernando Pessoa trocou com Crowley já que as enviadas eram datilografadas na máquina com auxílio de um “químico” (carbono) segundo Roza. O sobrinho então de posse deste material organizou um livro citado lá em cima e que ganha agora uma segunda edição por outra editora. Entre os documentos estão jornais da época que dão conta do “suicídio” de Crowley ao qual Pessoa auxiliou e repercutiu nos jornais.

Pessoa Esotérico
Na sua palestra sobre o Pessoa esotérico ele falou sobre este encontro e sobre os estudos de Pessoa sobre alquimia, magia, astrologia, teosofia e tantas quantas fossem as ciências ocultas, todas pareciam interessar ao intelecto do poeta. Quiromancia, estudo da face, das mãos, mapas astrais que Pessoa fez para si, seus familiares, heterônimos e uma enormidade de pessoas famosas e até entes abstratos. A propósito destes mapas foi a sua fluência no assunto que instigou o mago a querer encontrá-lo em Lisboa. Ele escreveu a Crowley: “Se tiverem, como provavelmente têm, oportunidade de comunicar com o Sr. Aleister Crowley, talvez possam informá-lo de que o seu horóscopo não está correcto e que, se ele admite que nasceu às 23h. e 16m. 39s. de 12 de Outubro de 1875, terá Carneiro 11 no seu meio-céu, com o correspondente ascendente e cúspides. Encontrará então as suas direcções mais exactas do que provavelmente as encontrou até agora. Isto é mera especulação, claro, e peço desculpa de vos maçar com esta intromissão puramente fantasista no que é, afinal de contas, apenas uma carta comercial.” A citação está em um estudo da Universidade Nova de Lisboa que pode ser encontrada aqui: http://www2.fcsh.unl.pt/deps/estudosalemaes/Pubs/P_Helena_Barbas_29_Jan_2003.asp
Para Léo Schlafman que publicou alguns artigos no Jornal da Poesia sobre Pessoa: “Goethe, como Fernando Pessoa, foi devoto cultor das ciências mágicas; iniciado numa loja maçônica desde os anos juvenis, pertenceu sucessivamente a várias sociedades secretas de fundamentos ocultistas... "Não procures, nem creias: tudo é oculto", disse Fernando Pessoa, para ser depois contraditado por Alberto Caeiro(heterônimo) que afirmou: "O único sentido oculto das coisas / é elas não terem sentido oculto nenhum." Sua mediunidade o levou às práticas ocultistas, à defesa da Rosa-Cruz e da maçonaria, à astrologia, à numerologia. Um intelectualista do tipo que ele era fez entrar na construção mental o que podia caber: o inteligível e o ininteligível, o racional e o irracional, o visível e o invisível, o claro e o misterioso, constituindo um sistema mágico nas suas conclusões embora desprovido de comprovação objetiva. Tudo se passou como se a subliteratura mística de onde extraía alento, ao atravessar seu cérebro privilegiado, saísse do outro lado filtrada e rarefeita do ponto de vista estético.”
Entre outras coisas Luis Miguel contou ao DC Ilustrado que seu tio se apaixonou pela namorada de Crowley. O mago tinha 54 anos, Hanni Larissa Jaeger tinha 19, e Pessoa, 42. O encontro teria motivado o primeiro poema erótico do poeta. Roza afirma que é impossível dizer se Pessoa era mesmo iniciado na maçonaria já que o mesmo negou em um artigo. Após a conclusão da palestra que aconteceu no Palácio da Concórdia uma das pessoas presentes perguntou como a família reagia aos heterônimos e qual efetivamente mais se parecia com o Fernando Pessoa. Ele respondeu: “É impossível saber, para nós era uma brincadeira. Para ele não sei dizer. É provável que ele era todos e nenhum. Acho que ele dissociava-se a si próprio para encontrar a si mesmo”.

Publicado originalmente na edição de 23-08-09 do Jornal Diário de Cuiabá

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Re-mecanica da palavra






Underdogs
A viola caipira e rock"n roll dos Viralatas

Fama de malucos, jeito de quem não tá nem aí pro mundo, eles provam que as aparências iludem. No show, propostas definidas, inspirações libertárias e políticas


Leidiane Montfort
Da Redação do Jornal A Gazeta (MT)

Depois de um show marcante no Cine Teatro Cuiabá o grupo Os Viralata volta ao palco. Mas ninguém garante que será da mesma forma, jeito ou pegada que surpreendeu os que compareceram ao lendário teatro na Capital. Afinal dos irmãos Eduardo Ferreira e André Balbino pode se esperar quase tudo. Fama de malucos, jeito de quem não tá nem aí pro mundo, eles mostram que a aparência ilude, afinal o próximo show da banda vem com marcas e propostas bem definidas e inspiração libertárias e políticas. E pelo menos a promessa é de uma apresentação para fisgar os amantes do bom, velho e gostoso rock"nroll.

Criado a partir das violas caipiras e inspirações do rock dos irmãos André Balbino e Eduardo Ferreira, Os Viralata é composto por Anna Marimon ( poeta), Amauri Lobo, Danilo Bareiro e Rubens Lisboa. Juntos eles vêm realizando pesquisas sonoras com as violas e buscam ampliar suas possibilidades para além dos modismos. A proposta é de explorar as infinitas combinações que a viola oferece. O trabalho está em fase de transição e perspectiva de uma mini turnê nacional passando por Recife, Florianópolis, Brasília e Porto Alegre, o objetivo é ainda interagir com artistas locais.

O som da banda traz blues, rock"n roll, pagode mineiro, umas classicosas fakes inventadas, funk, samba, brega. Tudo numa salada mista de experimentações de músicas de autoria de Eduardo Ferreira e André Balbino que são ancoradas por experientes músicos do cenário matogrossense e também de performance de interpretação e poesia com Anna Marimon, primeira-dama do bando. "Flertamos com vários estilos mas a viola transcende a qualquer rótulo", declara Ferreira.

Re-Mecânica- Os Viralata se apresentam nesta quinta na festa que é uma releitura de um "furdunço" cultural que aconteceu em 1983 em Cuiabá, em que os artistas independentes da terra em que se dizia encontrar jacarés nas esquinas e cobras e índios por todos os lados queriam se firmar que eram mais que isso. E eram. "Naquela época a Mecânica da Palavra conseguiu criar um cenário de postura política e social em que se firmava fortemente a postura do que nós defendíamos e acreditávamos de princípios libertários e anarquistas. Rolou muita loucura, claro, mas tudo era dentro do contexto daquele momento. Agora a Re-Mecânica se propõe a ser um evento de efervescência da cultura urbana de Cuiabá. Uma emblemática pausa para reflexões",.

O evento multicultural vai contar com participação de poetas, músicos, palhaços, atores e artivistas. A Re-mecânica acontece nesta quinta, dia 13, no Clube Feminino, na rua Barão de Melgaço, próximo à Cemat, a partir das 18 horas. O evento marca ainda o lançamento do movimento Música Para Baixar MPB- em Cuiabá, um movimento nacional que alia princípios de tecnologias livre, direito autoral flexível, cultura colaborativa, cultura livre, cultura digital, enfim, o movimento é libertário e se norteia por princípios autogestionários. "Uma espécie de "faça você mesmo", com um avanço para o "façamos nós mesmos". Um contraponto ao capitalismo voraz, uma atitude frente ao mundo insano do consumismo desenfreado e inconsequente", na opinião do artivista.

BOX


MPB- Música Popular Para Baixar- Essa é outra paixão do viralata Eduardo Ferreira. O movimento busca discutir o futuro da distribuição dos produtos da Indústria Cultural como músicas, livros, peças, etc. "A dinâmica do mundo mudou, o que estamos questionando é o direito à liberdade de aceitar o que é imposto. Queremos a flexibilização dos direitos autorais", declara.

Eduardo lançou o livro Eu Nóia em que aplica o conceito de obra compartilhada e autoriza a divulgação do que nele está impresso. "O pensamento é o de expandir o alcance da sua obra, querer compartilhar o que você fez, ou está fazendo, com o mundo. Muitos artistas estão se juntando nesse esforço como Tico Santa Cruz, Leoni, Teatro Mágico, dentre tantos outros. Não dá para fingir que os tempos não mudaram, a dinâmica de produção e divulgação são outras. É preciso pensar no futuro, uma vez que as atuais estruturas de direitos autorais estão mais do que ultrapassadas e falidas, como o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) em que só se ouve falar mal, e que não dão conta da realidade trazida com a Internet. Afinal, quem é capaz de controlar a distribuição na internet?", questiona.

O que parecia brincadeira está se espalhando e formando redes sem volta. A internet revolucionou as estruturas da indústria cultural e suscita novas discussões na sociedade. Hoje quando o artista compõe uma obra, automaticamente ele já está protegido por direitos autorais. Esses direitos, na visão de Eduardo, funcionam como instrumento de manutenção de poder. Para exemplificar o músico cita a lei que ficou conhecida como Mickey Mouse, segundo a lei o ratinho mais famoso do mundo ao completar 70 anos entraria em domínio público (livre acesso e divulgação). Perto do prazo expirar, graças ao lobby forte dos empresários norte-americanos, o prazo se estendeu para 90 anos. "Há toda uma indústria que luta forte para manter essa estrutura. Só eles lucram, os artistas não".

O intuito do MPB é fazer as obras circularem. "É quebrar a normalidade do sistema. Mas tem gente que não aceita, são os que se assustam com esses princípios libertários. Cenário que aponta uma grande falta de informação sobre o anarquismo, que não é bagunça e sim uma organização social coletiva para a qual o mundo se encaminha", pensa Eduardo.

Mas como ficam os direitos de quem cria e seus lucros? Eduardo conta que escreveu uma tese em que se aprofunda nos novos modelos de negócio. Mas adianta que é preciso pensar diferente. No mundo em que segue o trilho do software livre o pensamento fransciscano é a tônica do processo. "Quem dá recebe. O problema é que por muito tempo o pensamento foi de apenas receber. Agora, as lógicas que funcionam são completamente novas, com sensibilização e responsabilidades mais humanas. O novo sempre vem e é preciso estar atento", finaliza.

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Só pra reforçar o evento é gratuito e todos serão convidados a participar do modo que bem entenderem.

Até lá!!!

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Re-mecanica da palavra

Cuiabá sediará pré lançamento do movimento Música Para Baixar – MPB. Movimento nacional do segmento musical que alia princípios de tecnologias livre, direito autoral flexível, cultura colaborativa, cultura livre, cultura digital, enfim, o movimento é libertário e se norteia por princípios autogestionários. Uma espécie de “faça você mesmo”, com um avanço para o “façamos nós mesmos”. Um contraponto ao capitalismo voraz, uma atitude frente ao mundo insano do consumismo desenfreado e inconsequente.

Dia 13 é um marco para a cultura cuiabana e matogrossense, pois remonta a um evento-movimento de 1983 que demarcou o início da arte urbana e contemporânea por essas bandas de cá. O evento promete e está mobilizando muita gente.

Bandas confirmadas: osviralata, fuzzly, branco ou tinto, tocandira, lopez, lobo trio, pio toledo & ellen, mandala soul.
Além das bandas teremos audiovisual matogrossense, video-clips locais, performances, teatro de bonecos, som de roda, mural-documentário (anos 80, 90 e 2000), enfim, será o point de (re) largada para uma intensa mobilização de artistas matogrossenses que lutam por um mundo melhor.

links:
http://www.fotolog.com.br/tudomentira
http://osviralatadaviola.wordpress.com
http://overmundo.com.br/agenda/re-mecanica-da-palavra