terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A história não se repete

Quando um dinossauro abana o rabo pode ser que não seja bonito ou equilibrado, mas sem dúvida chama a atenção. Seja pelo volume ou pela história pregressa um dinossauro impõe respeito por onda passa. O dinossauro ao qual me reporto é o velho Zé Ramalho. Dono de letras poéticas e por que não proféticas. Zé, com a licença da intimidade, já está num altar dedicado a poucos músicos brasileiros. Mesmo com a turma da fumaça sendo arrastada para os seus shows e tendo, as suas letras mais viajantes, esbarrado em uma sociedade careta e retrógada, ele conseguiu o seu espaço. Hoje é respeitado como um grande compositor mesmo depois de ter feito aquela adaptação de Knocking on Heaven´s Door (Dylan), sofrível na minha opinião.

O compositor e cantor paraibano esteve recentemente (06/12/08) em Cuiabá. Dada a insistência da esposa e o dever jornalístico fui conferir de perto o show. Preciso confessar que não estava assim, com um humor muito açucarado, para não dizer ácido, ou melhor, azedo. Eu já não esperava um show extraordinário, para dizer a verdade esperava o ordinário, o óbvio ululante.

E de certo modo foi exatamente o que o ídolo apresentou. Uma série de sucessos, uns mais antigos, outros um pouco mais novos, que atenderam à demanda de fãs de todas as idades que praticamente cantaram o tempo inteiro com o paraibano. Nada contra, aliás todo músico que demora muito em voltar a uma cidade precisa de certo modo mostrar aquilo que as pessoas pagaram para ouvir: os sucessos.

O problema é que ele não é mais o mesmo. Talvez isto não seja um problema, afinal de contas todos nós envelhecemos. Sua voz já não alcança o mesmo patamar de outrora, a cozinha (músicos da banda) que o acompanhava muitas vezes soava mais alto do que seria necessário. Faltou para mim um pouco mais de entusiasmo, de paixão mesmo. Também creio que o local é de uma acústica sofrível. A arrumação das mesas e da área VIP apenas aumentava o abismo entre aqueles que não se agüentavam sentados, ou seja, dançaram e cantaram o tempo todo, e o músico, que precisa beber desta fonte formidável de energia fornecida pela platéia calorosa.

O que me faz ter uma visão tão crítica do show mesmo gostando muito das suas composições, talvez seja o fato de tê-las ouvido em ambiente aberto, sob a luz da lua em São Thomé das Letras há mais ou menos dez anos. Outro Tempo, outro Espaço. Mais vida e mais enthousiasmós.

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